Entrevista de Godofredo por Ocasião do Relançamento da Obra




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domingo, 7 de outubro de 2012


"O bruxo do Contestado" em nova edição


O escritor catarinense Godofredo De Oliveira Neto acaba de relançar, pela Ed. Record, seu romance O bruxo do Contestado, às vésperas do centenário do conflito armado que aconteceu na fronteira entre o Paraná e Santa Catarina. Publicada originalmente em 1996, a obra – de envergadura nacional, segundo Antonio Houaiss – foi estudada em várias instituições do país, como a Academia Militar de Agulhas Negras, universidades e escolas do ensino médio. Nesta entrevista, Godofredo fala sobre a nova edição, seu processo de pesquisa e o diálogo que estabelece entre realidade e ficção.




O bruxo do Contestado (Record, 2012) – que acaba de ser relançado, 100 anos após o conflito – foi publicado originalmente em 1996. O que o leitor pode esperar desta nova edição?


Todas as informações sobre o Contestado foram checadas e rechecadas. Os detalhes mais importantes da guerra vêm narrados aos poucos no decorrer do texto pela escritora Tecla. Uma narradora que escreve do exterior do acontecimento, buscando assim maior objetividade. No capítulo XV ela resume toda a Guerra do Contestado e a compara com a II Guerra Mundial e os fatos políticos de 1964 no Brasil. O Contestado persiste, assim, até os dias de hoje. Alguns trechos que escaparam na primeira versão foram incorporados nesta edição, alguns dados aperfeiçoados.



Embora tenha deixado cerca de 15 mil mortos, esse conflito civil na região do Contestado, fronteira entre o Paraná e Santa Catarina, não é muito divulgado. Por que essa tendência, na sua opinião? O que motivou você a resgatá-lo?


Penso que o conflito foi o maior acontecimento social organizado no Brasil do século XX, o maior conflito fundiário brasileiro daquele século. Empregaram-se aviões com fins militares pela primeira vez no continente, foram testadas armas que seriam usadas na I Guerra Mundial. As primeiras greves organizadas se deram ali. O Contestado está entre os grandes embates ideológicos no ocidente no século XX, temia-se o surgimento de um país independente socialista na região. Segundo depoimentos e informações que colhi, representantes de tendências ideológicas mundiais estiveram presentes, do Secretariado americano, do Partido dos Trabalhadores Russos, do Partido trabalhista Inglês, da Confederação do operariado argentino e por aí afora. No entanto, a guerra do Contestado tinha começado apenas super-regionalmente. Mas era fronteira com a Argentina, então Buenos Aires ficou de prontidão. Houve também uma enorme tensão racial entre colonos alemães e italianos, chamados para colonizar a terra habitada por moradores há décadas e décadas, e o Brasil cafuzo. O litoral e o sertão de novo em choque, como em Canudos. Só que agora havia ainda a presença de sete mil trabalhadores vindos do Recife e do Rio para construir a estrada de ferro, e que acabaram largados por lá, e que, claro, se juntaram aos revoltosos. O Rio político ficou em polvorosa. O STF foi acionado, Ruy Barbosa foi o advogado do Paraná, Epitácio Pessoa de Santa Catarina. A jovenzinha República se assustou, os revoltosos eram monarquistas. O Governo Central estava perdendo a parada. Enfim, uma confusão dos diabos que, para a sorte do governo do Rio, a eclosão da I Grande Guerra empurrou o conflito para debaixo do tapete. E assim se manteve por décadas.



Você investiu em algum tipo de pesquisa para escrevê-lo?


Compulsei todos os arquivos e obras sobre o tema. Me vali também livremente de dados fornecidos em rodas familiares (sou sobrinho do General Mesquita, que serviu em Canudos como soldado e foi depois enviado para o Contestado). A pesquisa levou anos. Um ponto importante e difícil é justamente cortar, caso contrário daria duas mil páginas! Inviável em todos os aspectos.



Apesar de inspirado num conflito real, O bruxo do Contestado é um livro de ficção. O que é realidade e o que é ficção na sua história?


É, como chamam os especialistas, um romance de extração histórica, não é um ensaio de história nem um romance histórico. Há, por ser justamente uma ficção, alguma licença poética, como Euclides fez no seu Os Sertões, aliás. Me considero romancista antes de tudo. Mas construo um diálogo entre verdades históricas, com trechos de jornal da época, com situações literárias. Os historiadores estarão em melhor situação do que eu para estabelecer a "verdade verdadeira". Mas dados para serem interpretados estão nas folhas do Bruxo.


Existe a expectativa de que um outro romance seu, Amores exilados (Record, 2011), seja adaptado para o cinema. O que essa possibilidade representa para sua obra?


Tenho recebido muitos contatos de pessoas que querem escrever um roteiro a partir do livro. Estou estudando, o roteiro do Amores exilados ficou ótimo, queria que o do Bruxo também ficasse.

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